Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre Programas Governamentais de Medicamentos Gratuitos ou Subsidiados é o objetivo principal deste Blog, que é produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

domingo, 7 de setembro de 2008

Falta de vacina põe em risco 500 crianças doentes

Há três meses, bebês com problemas imunológicos não recebem medicamento que deveria ser fornecido pelo SUS para combate a doenças como pneumonia e meningite.

Mais de quinhentas crianças com problemas imunológicos, como HIV e leucemia, estão na fila de espera para receber uma dose da vacina Prevnar em Curitiba. O medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde através do Sistema Único de Saúde (SUS) nos dois Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Cries) do estado - localizados em Londrina e na capital - e está em falta há qu ase três meses.

A vacina é aplicada em crianças com idades entre 2 e 18 meses para o combate a doenças como pneumonia e meningite e é a única do gênero para bebês. O Ministério alega que o fabricante, a empresa Wyeth, não quis negociar com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) que comprava o produto para 80 países em desenvolvimento e conseguia um preço mais baixo. A Wyeth Brasil informa, no entanto, que o preço de venda ao governo brasileiro é de 35 dólares, enquanto o preço de revenda da Opas correspondia a 53 dólares a dose. O laboratório afirma ainda que foram vendidas 130 mil unidades e que está apenas aguardando os trâmites burocráticos do governo brasileiro para fazer a entrega, que deverá ocorrer em no máximo dez dias.

A Opas foi procurada pela Gazeta do Povo, mas o responsável não foi encontrado.Pediatras querem inclusão no calendário Enquanto o Ministério da Saúde não fornece regularmente a vacina Prevnar - ou vacina pneumocócica conjugada 7-valente - nem para as crianças que mais precisam, um número cada vez maior de pediatras defende que ela seja incluída no calendário oficial de vacinação do país.

"É um medicamento que combate sete tipos de bactéria pneumococo. O Estado deveria garantir seu acesso a todas as crianças para que o sistema imunológico delas fosse melhorado. E caso as crianças que têm algum problema não recebam as doses, terão grandes chances de adquirir doenças graves", alerta Eitan Berezin, da Sociedade B rasileira de Pediatria (SBP).

A Wyeth Brasil afirma que existe uma negociação com o governo brasileiro e que os preços podem baixar. Os resultados do estudo PAE Brasil, financiado pelo laboratório e realizado por cientistas da SBP, Santa Casa de São Paulo e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro revelam como a vacina poderia ajudar.

A pesquisa aponta que com a extensão da vacinação a toda a população infantil, uma morte de crianças menores de cinco anos poderia ser evitada a cada 33 horas somente no estado do Rio Janeiro. A pesquisa revela ainda que todo ano são 1.629 mortes provocadas no estado por doenças como meningite e pneumonia.

Com a vacina, cerca de 21 mil crianças cariocas deixariam de contrair essas infecções e de acord o com os cientistas os gastos do estado do Rio nessa área diminuiriam. Hoje passam de R$ 4 milhões por ano. Enquanto o Ministério da Saúde não resolve o problema, Elaine Sinti e Paola Hedler, mães dos bebês Guilherme e Clara, vêem seus filhos adoecerem. Ambos são prematuros e permaneceram muito tempo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Guilherme nasceu com apenas 26 semanas e pesava pouco mais de 800 gramas. Hoje, com 4 meses, ainda está muito frágil", conta Elaine.

Outra criança que necessita da Prevnar é Letícia, de 1 ano e 8 meses, que tem Síndrome de Down. A menina precisava tomar a segunda dose da vacina com 15 meses, entretanto ainda não tomou. "Toda semana é a mesma coisa, dizem para voltarmos no outro mês, pois não tem nem previsão de quando a vacina estará disponível. Ela fez três cirurgias, vive com gripe e tem a imunidade muito baixa", diz o pai, Atacir Persegona. Já Eudivani Elvira Tomás de Assis decidiu comprar a Prevnar por conta própria e desembolsou R$ 240. "Minha filha fez cirurgia cardíaca, não posso arriscar. Agora é esperar vir a segunda dose".

O pequeno Luís Henrique também sofre com a falta do medicamento. Sua mãe, Lilian*, é portadora do vírus HIV e Luís, com apenas 2 meses, também já enfrenta a doença. "Ele precisa muito tomar a vacina, ainda bem que nunca teve nada, mas é mais vulnerável que as outras crianças", diz a mãe. O Ministério da Saúde informou ainda que não há previsão de ressarci mento das despesas com a compra do produto.

Espera De acordo com Celso Andretta, médico responsável pelo Crie Curitiba, a maior demanda pela Prevnar vem de bebês prematuros e soropositivos. "Temos também crianças com doenças renais crônicas, problemas no coração, câncer. E há um grande número de pacientes à espera do medicamento".

Beatriz Bastos Thiel, coordenadora do programa de imunizações do estado do Paraná, afirma que há seis meses há problemas de fornecimento do medicamento. "Solicitamos a quantidade necessária e quando o Ministério tem, manda, senão manda menos e não podemos fazer nada, pois dependemos desse repasse". Beatriz afirma que a Secretaria Estadual de Sa&uacut e;de faz uma solicitação de mil doses mensais.

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